Gases Biológicos em K2-18b Agitam a Busca por Vida Fora da Terra
Um novo capítulo na busca por vida alienígena começou depois de uma análise impressionante do Telescópio James Webb. Pesquisadores identificaram, pela primeira vez, sinais consistentes de gases que na Terra só existem por causa de organismos vivos. Na atmosfera do exoplaneta K2-18b, que fica a 124 anos-luz no meio da constelação Leo, foram encontradas quantidades surpreendentes de dimetil sulfeto (DMS) e dimetil dissulfeto (DMDS). São nomes estranhos, mas no nosso planeta, essas substâncias aparecem, basicamente, por causa de micro-organismos marinhos como o fitoplâncton.
Para dar uma ideia do tamanho dessa descoberta: as concentrações desses gases são milhares de vezes maiores que as da Terra e a chance do resultado ser mera coincidência é de apenas 0,3%. Os cientistas destacam um grau de confiança de 99,7%, algo que poucas vezes se vê nesse campo cheio de incertezas.
K2-18b já tinha chamado atenção da comunidade científica desde que foi descoberto, em 2017. Com massa 8,6 vezes maior que a da Terra e tamanho cerca de 2,6 vezes maior, ele orbita o que se chama de zona habitável de sua estrela—justamente a região onde as temperaturas poderiam permitir água líquida. Antes, o James Webb já tinha flagrado metano e dióxido de carbono por lá. Esses novos gases jogaram mais lenha na fogueira do debate sobre vida fora do Sistema Solar.
Expectativas, Cautela e Novos Desafios
Quem lidera o estudo, Nikku Madhusudhan, astrobiólogo da Universidade de Cambridge, resumiu bem: a descoberta é "transformadora", mas ainda não é hora de sair gritando "achamos ETs". O detalhe é que, por enquanto, esses compostos são conhecidos na Terra por serem gerados só por processos biológicos, mas sempre existe o risco de algum processo geológico desconhecido produzir algo parecido em outro planeta.
Até críticos têm se manifestado, como o astrônomo Cássio Barbosa, dizendo que antes de qualquer título de primeiríssima vida alienígena, convém descartar mecanismos não biológicos. E ele tem razão: planetas cheios de hidrogênio como o K2-18b podem ter reações químicas bem diferentes das terrestres. Modelar toda essa química é um baita desafio, e até geólogos têm aparecido na conversa pra sugerir explicações alternativas.
- K2-18b pode abrigar oceanos quentes e ricos em hidrogênio, o que abre espaço para possibilidades curiosas de vida microbiana.
- Os estudos de agora ainda não atingiram o patamar dos chamados "cinco sigma" da física—o ponto em que tudo fica praticamente incontestável. Faltam mais medições para bater o martelo.
- O James Webb demonstra de novo como está mudando o jogo: hoje ele enxerga atmosferas de planetas muito longe daqui com detalhes que eram sonho há pouquíssimo tempo.
Por enquanto, ninguém fala em vida como nós conhecemos. Nos bastidores, a grande questão é: será que existe algum outro jeito de fazer DMS e DMDS em quantidades tão enormes sem nenhum ser vivo envolvido? Enquanto os cientistas seguem modelando dados, a cada nova missão cresce a esperança (e a ansiedade) de desvendar se realmente estamos sós no universo.