Laver Cup: o torneio que coloca João Fonseca no mapa da elite do tênis

Laver Cup: o torneio que coloca João Fonseca no mapa da elite do tênis

O que é a Laver Cup e por que ela mudou o tênis

Um torneio de três dias, 12 partidas, pontuação crescente e decisão garantida no domingo. Esse é o resumo da Laver Cup, a competição que colocou o espírito de equipe no centro de um esporte individual, aproximou gerações e virou vitrine para talentos em ascensão. De um lado, seis jogadores da Europa. Do outro, seis do Resto do Mundo. Bancos cheios, capitães lendários à beira da quadra, conversas táticas liberadas e uma quadra preta que virou marca registrada.

O desenho é simples e inteligente. Sexta-feira vale um ponto por vitória. Sábado, dois. Domingo, três. Quem chega a 13 pontos ergue o troféu. Essa matemática segura a tensão até o fim: mesmo que um time dispare no começo, o outro pode virar no domingo. Se der 12 a 12, entra em cena o "The Decider", um quinto jogo no domingo, com set normal e tie-break tradicional, para encerrar a disputa no limite.

São 12 partidas no total: nove de simples e três de duplas, distribuídas em cinco sessões. Sexta e sábado têm programação diurna e noturna. Domingo tem sessão única, feita para decidir tudo. O formato de jogo é melhor de três sets com vantagem no game; se houver empate em sets, o terceiro vira um match tie-break de 10 pontos, que acelera o desfecho sem perder o drama.

A seleção dos elencos mistura mérito e estratégia. Três nomes de cada time entram pela classificação da ATP, definida pela lista publicada na segunda-feira depois de Roland Garros. As outras três vagas são escolhas dos capitães e saem até o início do US Open. É aí que entram o momento, o encaixe tático e o olhar para jovens que podem estourar. A mensagem é clara: não basta somar pontos no ranking; é preciso entregar impacto e química de equipe.

As regras de participação também equilibram forças. Todo mundo joga pelo menos uma vez nos dois primeiros dias. Ninguém pode fazer mais de duas partidas de simples. Em duplas, pelo menos quatro jogadores da equipe precisam entrar em quadra e nenhuma parceria se repete, a menos que haja necessidade. Isso força os capitães a distribuir minutos, trabalhar duplas improváveis e esconder cartas para o domingo.

A cada sessão, a estratégia vira espetáculo. As escalações de sexta saem na tarde de quinta. Sábado e domingo só são confirmados uma hora depois do fim do dia anterior. Os capitães trocam cartões com os nomes e as ordens dos confrontos, o que cria combinações de última hora e abre espaço para jogos mentais. Quem segura o melhor sacador para a noite? Quem arrisca o novato no primeiro turno? Decisão por detalhe.

Outro diferencial é o ambiente. O torneio ocorre em quadra dura, geralmente indoor, muitas vezes com teto retrátil, o que padroniza as condições e amplifica o barulho da arena. A estética da quadra preta, os bancos colados na linha lateral e a presença constante dos capitães tornam o clima quase de final de Copa. O uniforme azul identifica a Europa; o vermelho, o Time Mundo. É fácil para o público se envolver.

Na beira da quadra, o diálogo é parte do jogo. Os capitães dão instruções e os colegas participam. É comum ver um veterano corrigindo o posicionamento de um jovem na devolução ou sugerindo variação de saque. Essa troca, microfonada e televisionada, dá ao fã acesso a um tipo de conversa que normalmente fica escondida nos bastidores.

Nos bastidores, a Laver Cup funciona como um projeto global. O evento foi lançado em 2017, tem nome em homenagem ao australiano Rod Laver e costuma alternar sedes entre Europa e América do Norte. Cidades-sede como Praga, Chicago, Genebra, Boston, Londres e Vancouver já receberam a competição. A rotação aumenta o alcance, leva o produto a novos públicos e injeta uma dose de rivalidade de casa, especialmente quando o Time Mundo atua em território norte-americano.

Se você olha apenas pela régua do ranking, talvez estranhe: a Laver Cup não distribui pontos ATP. Ainda assim, ela paga premiações, oferece exposição gigantesca e virou um selo de relevância. O pacote comercial envolve arenas cheias, transmissão para vários países e uma audiência que gosta do formato rápido, com sessões bem definidas e narrativa de três atos: sexta de aquecimento, sábado de viradas e domingo de tudo ou nada.

Historicamente, a Europa começou dominante, surfando uma geração de ouro. O Time Mundo respondeu nas últimas edições com um elenco mais fundo e duplas afiadas. O equilíbrio recente mostra como o modelo funciona: dá espaço para surpresas, valoriza a química e premia quem lê melhor o momento — seja poupando um titular para o domingo, seja lançando um especialista em duplas para virar uma sessão.

Em quadra, o xadrez é rico. No dia a dia do torneio, os capitães medem: quem lida melhor com o tie-break longo do terceiro set? Quem rende mais à noite, em ambiente mais pesado? Em duplas, vale colocar um sacador potente ao lado de um devolvedor agressivo, ou apostar em duas mãos firmes na rede? Com a regra que impede repetir parcerias, cada dupla vira um laboratório — e os adversários têm pouco tempo para decifrar padrões.

Para os fãs, a experiência é direta: partidas curtas e intensas, com reviravoltas proporcionadas pela pontuação progressiva. Para os jogadores, é uma rara chance de jogar por um escudo, dividir pressão e aprender com quem já venceu tudo. Essa mistura de show e competição é a chave do sucesso.

Onde João Fonseca entra nessa história

Onde João Fonseca entra nessa história

É aqui que o brasileiro João Fonseca aparece no radar. Em um circuito em que a ascensão costuma ser gradual, a Laver Cup abre uma janela para acelerar etapas. Como o Time Mundo reúne países fora da Europa, o Brasil entra nesse guarda-chuva. Para um jovem em curva ascendente, estar no vestiário ao lado de campeões, receber orientação de capitães e disputar jogos sob holofotes pode significar um salto de temporada.

O caminho de entrada é realista. Metade das vagas são escolhas de capitão. Se o jogador mostra nível em ATP e Challenger, compete bem contra top 50 e tem estilo que agrega em duplas, vira uma peça tática. A competição valoriza atletas versáteis, que quebram o ritmo em tie-break, devolvem bem em quadra dura e se adaptam rápido a parceiros diferentes. É um perfil que favorece jovens corajosos.

Para João, os ganhos vão além do placar. Na prática, é conviver com rotinas de preparação de ponta, com treinos de alta intensidade e ajustes finos feitos a cada sessão. É ouvir de perto como um veterano lê um 30-30, quando mudar o alvo do saque, por que encurtar uma troca para evitar o contra-ataque do rival. Essas microlições, repetidas ao longo de três dias, valem meses de circuito normal.

Há também a vitrine. A Laver Cup concentra mídia global, comparável a uma semana de Masters 1000 em atenção, ainda que com outro formato. Uma boa atuação num jogo de sábado, que vale dois pontos, pode virar clipe, circular em rede social e abrir portas com patrocinadores. Para um jovem, visibilidade nesse nível ajuda a financiar equipe, calendário e evolução técnica.

Outro ponto pouco falado é o ajuste mental. A competição obriga o jogador a lidar com entradas e saídas rápidas de quadra, a mudar de parceiro de duplas e a se manter pronto mesmo sem sequência de jogos. É o tipo de pressão que, bem aproveitada, constrói casca. Jogar um tie-break de 10 pontos no fim, com a equipe inteira em pé atrás do banco, não reproduz o clima de um ATP 250 — é mais pesado e mais formador.

Na tática, João pode somar com leitura moderna: devolução agressiva em segundo saque, transição rápida para a rede nas duplas e variação de altura para quebrar a batida pesada dos europeus. Em quadra dura indoor, quem muda direção cedo e pega a bola na subida encurta ponto e evita que o rival imponha o ritmo. Jovens com esse gatilho de aceleração costumam incomodar em sessões noturnas.

Para o Time Mundo, faz sentido oxigenar o elenco. A regra que impede repetir parcerias de duplas estimula capitães a testar combinações com um novato ao lado de um especialista. Se o jovem segura saque e devolve firme cruzado, já entrega valor. Muitas viradas de sessão nascem em duplas bem montadas no fim do sábado, quando cada ponto vale por dois e a margem para erro some.

Do lado do público brasileiro, existe um efeito imediato: identificação. Ver um talento nacional vestindo vermelho num palco ao lado de campeões cria memória e alimenta a base. Torneios por equipe têm esse poder. Muita gente lembra do primeiro contato com o tênis pela TV em finais coletivas. A Laver Cup resgata esse espírito em formato curto, com narrativa clara e personagens fortes.

Também conta o calendário. Realizada perto do fim da temporada do hemisfério norte, a competição chega quando os corpos pedem gestão de energia e as agendas ficam mais táticas. Para um jovem, é oportunidade de mostrar preparo físico, capacidade de recuperação entre sessões e disciplina de treino. Se o capitão tem confiança de lançar o novato no domingo, isso costuma vir de consistência nos treinos da semana.

Por fim, há o aspecto simbólico. Estar ali é um carimbo de pertencimento. O vestiário reúne campeões de Grand Slam, top 10, especialistas de duplas e jovens famintos. Você aprende não só o que fazer, mas como se portar: do aquecimento ao cooldown, do briefing com o capitão à conversa com a equipe de fisioterapia. Quem absorve esse pacote volta ao circuito diferente.

Se a Laver Cup nasceu para homenagear a história e vender um show moderno, ela acabou criando um atalho para talentos que estão prontos para o próximo passo. Para João Fonseca, é uma porta para a elite — não como promessa, mas como participante ativo de uma semana em que o tênis vira jogo coletivo e cada ponto carrega a força de um time inteiro.