Cenário Tenso e Coalizão por um Fio
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, enfrentou um de seus maiores testes políticos na Knesset. O risco era real: seus aliados ultraortodoxos ameaçavam derrubar o governo caso suas exigências sobre a isenção militar para homens haredi não fossem atendidas. Shas e Judaísmo Unido da Torá (UTJ) são fundamentais para manter a coalizão, e eles estavam dispostos a tudo para preservar o status dos jovens ultraortodoxos, que querem continuar fora do exército — uma tradição que dura décadas e virou símbolo de disputa política no país.
A pressão explodiu justamente por causa da rejeição do Supremo Tribunal israelense ao modelo atual das isenções. Para o tribunal, não dá mais para sustentar um sistema onde uma parte significativa dos jovens judeus não cumpre o serviço militar obrigatório. Isso colocou partidos religiosos num impasse, já que sua base eleitoral exige a manutenção das dispensas. O problema: o aumento na tensão social entre setores seculares, religiosos e os próprios soldados.

Acordo Eleitoral de Última Hora
O clima era de decisão quando Yuli Edelstein, do Likud, entrou em cena. Ele é o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Knesset, e conseguiu costurar um acordo de última hora. A ideia foi suavizar a proposta de endurecimento para o serviço militar dos ultraortodoxos, mas sem abrir mão de sanções para os que burlarem a lei. Ou seja, não cedeu totalmente para os partidos religiosos, mas também não abandonou de vez a pressão judicial.
Mesmo com o tratado, dois deputados do Judaísmo Unido da Torá – ligados à facção Agudat Israel – decidiram votar com a oposição pela dissolução imediata do parlamento. O placar mostrou o quão frágil está a base aliada de Netanyahu: 61 votos contra a queda do governo, 53 a favor. Se fossem apenas quatro mudanças de lado, o país já estaria de novo em campanha eleitoral, pela sexta vez em apenas alguns anos.
- Oposição organizada para antecipar novas eleições;
- Racha dentro dos próprios partidos religiosos;
- Base governista cada vez mais vulnerável a pressões internas.
O desgaste dessa disputa vai além da política doméstica. Fontes próximas indicam que o próprio relacionamento de Netanyahu com o ex-presidente americano Donald Trump passou por tensões. O motivo da discórdia? Pressões para que Israel interrompa sua operação em Gaza. Netanyahu, em público e nos bastidores, se recusa a acatar a sugestão, preocupado com sua imagem interna e internacional.
A questão da isenção militar para ultraortodoxos nunca sai do centro das discussões em Israel. É um tema que mexe com a identidade nacional, divide famílias e partidos e serve de termômetro para medir a força do governo. Por ora, Netanyahu garante mais algum tempo no poder, mas a distância até um governo estável parece cada vez maior.