Quando Clara Nery, repórtora da Band, se preparava para ir ao ar diante do Botafogo e do Batalhão da Polícia Militar, no sul do Rio de Janeiro, foi surpreendida por uma tentativa de roubo capturada pelo cinegrafista Leonardo Teixeira. No mesmo dia, outro profissional da Band, o repórter Igor Calian, vivenciou situação similar na Avenida Faria Lima, em São Paulo, enquanto se preparava para transmissão ao vivo. Ambas as cenas foram gravadas e entregues às autoridades, gerando preocupação sobre a segurança de profissionais da imprensa nas ruas.
Contexto dos crimes contra jornalistas no Brasil
Nos últimos cinco anos, o Conselho Nacional de Imprensa registrou um aumento de 27% nos incidentes de violência contra comunicadores que trabalham em campo. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo (ABJ), 42% dos repórteres já sofreram algum tipo de agressão física ou ameaça durante coberturas externas. O motivo costuma ser a visibilidade – microfones, câmeras e, claro, os smartphones – que transformam esses profissionais em alvos fáceis para vândalos e ladrões.
O cenário urbano, com ruas movimentadas e poucos pontos de apoio policial, cria um ambiente propício para crimes relâmpago. Em cidades como Rio e São Paulo, a combinação de alta densidade populacional e trânsito caótico dificulta a atuação preventiva das forças de segurança.
Detalhes da tentativa de roubo a Clara Nery em Botafogo
Às 09h45 da manhã de 28 de julho de 2025, a equipe de produção da Band chegou ao local escolhido para a transmissão ao vivo: a calçada em frente ao Batalhão da Polícia Militar, em Botafogo. Clara, vestindo um casaco escuro, segurava o celular que seria usado como teleprompter. De repente, um motociclista em alta velocidade desviou da pista, encostou na calçada e desembarcou com um movimento brusco.
O suspeito, trajando jaqueta azul e usando um boné, agarrou o aparelho e tentou fugir. O rosto ficou parcialmente visível, mas a placa da motocicleta estava coberta por um pedaço de papelão – uma manobra típica para evitar a identificação. O celular escorregou das mãos do ladrão, tombou no asfalto e foi recolhido imediatamente por Clara, que manteve a postura profissional e continuou a transmissão após um breve silêncio.
Leonardo Teixeira, que filmava tudo, enviou o material ao Conselho de Segurança da imprensa e às divisões de Polícia Militar e Civil. A gravação mostra claramente o momento em que o bandido se aproxima, a tentativa de arrebatar o aparelho e a reação dos repórteres. Até o final, a câmera ainda captura o rosto do suspeito, permitindo uma provável identificação.
Segundo o delegado responsável, Capitão Mauro Silva, da 20ª Delegacia de Polícia Civil, “o vídeo é peça fundamental para a investigação. A cobertura de placas, ainda que adulterada, pode ser cruzada com registros de veículos avariados na região”. A PM já iniciou buscas nas imediações, mas o autor ainda não foi localizado.
Incidente semelhante envolvendo Igor Calian em São Paulo
Quatro dias depois, por volta das 14h30, Igor Calian estava posicionando a câmera na Avenida Faria Lima, um dos corredores financeiros mais movimentados da capital paulista. Enquanto ajustava o microfone, um ciclista de bicicleta ergueu a mão e tentou agarrar o celular que ficava em seu bolso.
O agressor, mais discreto que o motociclista do Rio, usou a própria bicicleta como cobertura, mas a tentativa falhou quando o aparelho escorregou e caiu ao chão, sendo rapidamente recolhido por Igor. A equipe de filmagem novamente capturou todo o episódio, inclusive um áudio de fundo que inclui o barulho dos carros e o grito de alerta de um transeunte.
A Polícia Civil de São Paulo recebeu o material e reportou que o suspeito poderia ter relação com pequenos furtos em áreas comerciais da cidade. “É preocupante que esses crimes estejam acontecendo no mesmo dia, em duas capitais distintas, sempre diante das câmeras”, comentou a assessoria de imprensa da Band.
Reações das autoridades e medidas de segurança adotadas
Após os dois episódios, a direção da Band divulgou nota pública reforçando o compromisso com a segurança de seus profissionais. A emissora informou que está revisando protocolos de campo, incluindo a presença de segurança privada em áreas de maior risco e a adoção de microfones e celulares com trava antipróprio.
O Ministério da Justiça, por meio da Secretaria de Comunicação Social, lançou um alerta nacional para veículos de imprensa, pedindo que repórteres evitem zonas de alta criminalidade sem apoio policial. Em cidades como Rio e São Paulo, as delegacias de crimes contra a imprensa foram designadas a casos de violência em tempo real, garantindo resposta mais rápida.
Especialistas em segurança urbana recomendam que jornalistas adotem estratégias simples: manter o equipamento em bolsos internos, usar cadeados de segurança e compartilhar a localização com a redação em tempo real. “A prevenção passa por mudar a rotina – não aparecer sozinho, usar roupas que não atraiam atenção e, quando possível, solicitar escolta”, orienta o consultor de segurança Felipe Araújo.
Impacto no jornalismo de campo e perspectivas futuras
Esses incidentes reacenderam o debate sobre a vulnerabilidade de quem traz as notícias direto da rua. Enquanto a tecnologia permite coberturas ao vivo em segundos, também cria pontos de exposição que ladrões podem explorar. A Band, assim como outras emissoras, está estudando a implementação de drones de transmissão, que eliminariam a necessidade de um repórter próximo ao usuário final.
Entretanto, muitos argumentam que a presença humana é insubstituível para captar a emoção do momento. “Despersonalizar a cobertura pode afastar o público da realidade”, afirma a jornalista veterana Maria Lúcia, da TV Cultura.
O que fica claro é que a indústria precisa equilibrar inovação tecnológica com protocolos rígidos de segurança. Enquanto isso, a comunidade jornalística acompanha de perto as investigações, na esperança de que os responsáveis sejam rapidamente identificados e punidos.
Fatos principais
- 28/07/2025 – Clara Nery é alvo de tentativa de roubo em Botafogo, Rio de Janeiro.
- 31/07/2025 – Igor Calian sofre incidente similar na Avenida Faria Lima, São Paulo.
- Os vídeos das duas situações foram entregues à Polícia Militar e à Polícia Civil.
- O motociclista do Rio encobriu a placa da moto com papelão; o ciclista de São Paulo usou a bicicleta como cobertura.
- A Band está revisando protocolos de segurança e considerando o uso de drones para transmissões ao vivo.
Perguntas Frequentes
Como esses ataques afetam a segurança dos jornalistas no Brasil?
Os episódios mostram que jornalistas que realizam transmissões ao vivo se tornam alvos fáceis, pois carregam equipamentos valiosos e estão expostos ao público. Isso aumenta a sensação de vulnerabilidade nas redações e acaba forçando mudanças nos protocolos de campo, como a presença de seguranças ou o uso de tecnologias remotas.
Quem está investigando o caso de Clara Nery?
O caso está sob a responsabilidade da 20ª Delegacia de Polícia Civil do Rio de Janeiro, comandada pelo Capitão Mauro Silva, e recebeu apoio da Polícia Militar local. O material de vídeo fornecido pela Band está sendo analisado para identificar a moto e o suspeito.
Qual foi a reação da Band diante das tentativas de roubo?
A emissora emitiu nota pública reforçando seu compromisso com a segurança dos profissionais, anunciou revisão dos protocolos de campo e está avaliando o uso de drones e equipamentos com travas de segurança. Também intensificou a colaboração com as forças de segurança para monitorar riscos.
Há dados sobre quantas vezes jornalistas foram alvo de crimes nos últimos anos?
Segundo a ABJ, entre 2019 e 2024, foram registrados 1.874 casos de agressões ou furtos contra jornalistas em todo o país. Dessas ocorrências, 38% envolveram roubo de equipamentos eletrônicos durante coberturas externas.
O que as autoridades recomendam para quem trabalha em campo?
A polícia recomenda que repórteres evitem áreas com alto índice de criminalidade sem escolta, mantenham equipamentos em bolsos internos, utilizem travas de segurança e mantenham contato constante com a redação via aplicativos de geolocalização. Em casos de risco, a presença de seguranças privados é sugerida.
Ariadne Pereira Alves
outubro 6, 2025 AT 05:10É realmente preocupante observar como a violência urbana atinge até mesmo quem está na missão de informar, especialmente em cidades como Rio e São Paulo; a pressão sobre os repórteres aumenta a cada incidente, e a Band tem o dever de proteger seus profissionais, fornecendo equipamentos adequados e treinamento de segurança; além disso, medidas como acompanhamento em tempo real e suporte policial são essenciais, pois evitam que situações como a de Clara Nery e Igor Calian se repitam; vale lembrar que a liberdade de imprensa não pode ser intimidada por ladrões que veem nos aparelhos eletrônicos um alvo fácil.