Sanções dos EUA forçam saída de magistrado auxiliar da bancada de Alexandre de Moraes

Sanções dos EUA forçam saída de magistrado auxiliar da bancada de Alexandre de Moraes

Um juiz auxiliar deixou o gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, depois de ser incluído nas recentes sanções dos EUA contra autoridades brasileiras. A decisão, divulgada por veículos de imprensa local, revela como a política externa americana pode impactar o cotidiano da Justiça nacional.

Como surgiram as sanções

Em meados de 2024, a administração Trump retomou a aplicação do Global Magnitsky Act, lei que permite ao governo americano punir indivíduos considerados responsáveis por violações de direitos humanos ou corrupção. Na prática, o Departamento de Estado incluiu ao longo de algumas semanas um grupo de juízes, advogados e até parentes de membros do STF. Entre eles, Alexandre de Moraes, que ganhou destaque internacional ao conduzir o processo que resultou na sentença de 27 anos de prisão para o ex‑presidente Jair Bolsonaro, acusado de planejar um golpe após a derrota nas eleições de 2022.

A justificativa oficial dos EUA foi que o processo contra Bolsonaro teria caráter político e que o ministro teria extrapolado sua autoridade jurídica. O presidente americano, então, rotulou o julgamento como "caça às bruxas" e utilizou a legislação magnitsky para bloquear vistos, congelar bens e impor restrições bancárias.

Impactos diretos sobre o Judiciário brasileiro

Impactos diretos sobre o Judiciário brasileiro

A lista de sancionados incluiu, além de Alexandre de Moraes, sua esposa, Viviane Barci de Moraes, e o procurador‑geral da República, Jorge Messias. Vários magistrados que atuam ao lado de Moraes no STF também viram seus vistos para os EUA cancelados, embora nem todos tenham confirmado publicamente a medida.

O juiz auxiliar que abandonou o gabinete alegou, em entrevista a um jornal de Brasília, que a pressão internacional tornou insustentável continuar no cargo. Ele não revelou detalhes sobre eventuais bloqueios de contas ou restrições de viagem, mas confirmou que o incidente lhe trouxe "incertezas profissionais e pessoais".

Além das restrições individuais, a administração americana impôs tarifas de 50% sobre uma série de produtos exportados pelo Brasil, como soja, carne bovina e aço. A medida elevou o risco de retaliações comerciais e complicou ainda mais as relações entre os dois países.

Em resposta, Alexandre de Moraes divulgou notas oficiais defendendo a independência do Judiciário. O ministro garantiu que as instituições brasileiras permanecem "fortes e sólidas" e acusou Washington de atacar a soberania nacional e o Estado de Direito.

Especialistas em direito internacional apontam que a aplicação do Global Magnitsky a juízes por decisões judiciais abre precedente perigoso. Segundo a professora de Direito Constitucional da Universidade de São Paulo, Maria Clara Ramos, "a punição de magistrados por exercerem suas funções pode enfraquecer a separação dos poderes e gerar autocensura nas cortes".

Enquanto isso, a comunidade jurídica brasileira observa atentamente as repercussões econômicas das tarifas elevadas. Empresas do agronegócio já relataram aumento nos custos de exportação e temem perda de mercado para concorrentes latino‑americanos não afetados pelas sanções.

O caso do magistrado auxiliar ilustra, de forma concreta, como decisões internas de um país podem se transformar em questões de política externa. A ausência dele do gabinete de Moraes pode ser apenas o primeiro indicativo de um desgaste maior entre a justiça brasileira e o governo dos Estados Unidos, um cenário que ainda está se desenrolando nos corredores do STF e nas salas de negociação de Brasília.