O tradicional São Silvestre está iniciando a celebração de seu centenário e já mostra por que se tornou a corrida mais emblemática da América Latina. Nascida em 1925, a prova chegou à 99ª edição em 2024, marcando a primeira grande festa antes da esperada 100ª edição prevista para 2025. Essa preparação inclui maratonas de divulgação, retrospectivas históricas e, sobretudo, números que jamais tinham sido vistos antes.
História e tradição da corrida
O jornalista e advogado Cásper Líbero, então proprietário de um dos maiores conglomerados de imprensa do país, foi inspirado por uma corrida noturna em Paris, onde corredores carregavam tochas. Ao voltar ao Brasil, decidiu criar um evento que unisse a cidade de São Paulo ao espírito de renovação de fim de ano. O primeiro percurso tinha apenas 8 km, sem postos de hidratação, refletindo o pouco conhecimento de ciência esportiva da época.
De 1925 a 1988, a corrida aconteceu à noite, com atletas cruzando a linha de chegada depois da meia‑noite – literalmente correndo de um ano para o outro. Em 1989, a organização mudou a data para a tarde, mantendo‑a até 2011. Desde 2012, a largada acontece pela manhã, às 7h30 (horário de Brasília), oferecendo condições climáticas mais favoráveis e maior visibilidade ao público.
Apenas uma exceção interrompeu a sequência: a edição de 2020 foi cancelada devido à pandemia de COVID‑19. Fora isso, a prova nunca deixou de acontecer, consolidando‑se como o símbolo que encerra o calendário esportivo brasileiro a cada 31 de dezembro.

Os números que marcam a edição centenária
Em 2024, a corrida quebrou todos os recordes de inscrição. São 37.500 corredores confirmados – um salto significativo em relação ao limite anterior de 35.000. O diretor Erick Castelhero chegou a afirmar que, se as inscrições permanecessem abertas, a demanda poderia ter chegado a 50 mil atletas.
Outro marco importante foi a participação feminina. Quase 40% dos inscritos foram mulheres, número que demonstra o sucesso das políticas de inclusão adotadas nos últimos anos. Essa presença crescente de corredoras tem trazido novas dinâmicas ao evento, com equipes mistas e estratégias de treinamento diferentes.
O percurso mantém sua rota clássica ao longo da Avenida Paulista, começando próximo ao número 2084 e terminando em frente à Fundação Cásper Líbero, na avenida 900. Ao longo dos 15 km, os atletas passam pelo MASP, pelo Conjunto Nacional e por outros marcos que dão à corrida um cenário quase cinematográfico.
A edição de 2024 também contou com a participação de atletas internacionais, reforçando o caráter global da prova. Corredores da Europa, América do Norte e América do Sul se juntaram a corredores amadores de todo o Brasil, criando um ambiente onde o profissionalismo convive com a paixão amadora.
Além da corrida, a festa de centenário inclui eventos paralelos: exposições sobre a história da corrida, palestras com ex‑campeões, workshops de preparação física e gastronômica, e um show ao vivo na zona de chegada. Tudo isso reforça o papel da São Silvestre como um grande festival esportivo e cultural.
O futuro parece ainda mais promissor. A organização já está planejando a edição de 2025, que será a primeira oficialmente chamada de “100ª São Silvestre”. Espera‑se que as inscrições ultrapassem novamente a marca de 40 mil, e que novas categorias, como corridas de barreiras e versões para crianças, sejam incluídas.
Para quem acompanha a corrida há décadas, a São Silvestre representa mais do que um teste de resistência; é um ritual de despedida do ano que se encerra, um momento de encontro entre gerações de corredores e um lembrete de que a tradição pode evoluir sem perder sua essência.